Physics of Gridlock - Pain of Salvation

domingo, 15 de março de 2009

Marasmo

Sou a salmoura que respira.
sou mar de salitre.
Sou cristalino,
sou leve e sou livre.
Sou cego e sou fino,
sou fardo,sou Graal.
Sou do mundo,
da minha terra natal.
Reflicto céu, profundo,
sou mar, inundo,
um sabor de negro sal.
Sou dilúvio,sargaço,
ramo de oliveira.
Tranquilidade,espaço,
quer eu queira,
quer não queira.
Sou fogo, sou pira,
ardo forte,
ardo morte,
ardo sangue e ardo vida,
pela terra mal vivida.

"Fortuna imperatrix mundi: fortune plango vulnera", Carmina Burana, Carl Orff

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poemário

Para escrever um poema,
não preciso ser pomposo.
Preciso de um tema,
um mote generoso.
Posso usar palavras caras,
mas se lhes tenho amor,
não posso vendê-las.
Tenho de lhes dar asas,
sem rancor,
sem medo de tê-las.
Para escrever um poema,
não posso querer escrevê-lo.
Um poema não é um poema,
é antes uma prosa sem apelo.
É um pouco do meu ser apalavrado,
que ganha forma,enquadrado,
em métricas despropositadas,
em semânticas inusitadas.
Para escrever um poema,
devo desprezá-lo.
Expulsá-lo de mim,
libertá-lo.
Deixá-lo ser, assim,
mais um poema livre,
que poderia ter sido
a prosa de um livro,
ou um ideal esquecido.
Para escrever um poema,
devo ter em mente regras,
para melhor as rasgar sem que tema,
ás cegas,
quebrá-las ou fazer cumprir.
Devo deixar-me ir.
Esquecer a gravidade
dos corpos,
o calor da cidade
ou o frio dos campos.
Para escrever um poema,
devo pensar o sentimento,
sentir o pensar.
Devo chorar contentamento,
sorrir o pesar.
Secar o pranto,
elevar o canto
e terminar,
como quem pede para ficar
mais um pouco a meditar.
Para escrever um poema,
devo acabar,
um homem um pouco melhor,
que ao começar.

"Wish you were here" , Wish you were here , Pink Floyd