Physics of Gridlock - Pain of Salvation

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Galé

Dei-te a mão,
na falésia.
O nevoeiro trouxe-te fresca numa canção
de brisa e maresia fria,
na senda macia
de um ser mais forte.
Tomei-te ondas
por abraços de anjo,
ondas vindas
do querer e do desejo,
de um sabor de mar.
Atraído pelo rugir
ao luar
do teu corpo por tocar,
da tua vida por sentir,
adormeço sem pensar
e sem ouvir
a voz que me embala
no berço do teu sal.
Acordei nas novenas
do imaculado areal
para uma vida sem falésia,
e sem asas,
sem inércia.
A falésia já lá vai...

Silêncio das marés

terça-feira, 8 de julho de 2008

Áquem e além dor

Sou de mim no vazio,
sou teu no frio
e no estio,
não sou de ninguém.
Sou de cêra
para alguém,
de sonho parecera
a alguém mais além.
Sou uma fraude,
cego e surdo,
sem toque de ouro e mudo.
Sou um velho lobo,
cansado mas astuto.
Cedo roubo
a vida a um qualquer cordeiro,
fascinado pelo verdadeiro
uivo de um sonho.
Sou pobre mas risonho,
o meu único trunfo.
Arauto e vítima
no meu próprio triunfo,
faço meus os sonhos de Deus,
de Deus nos sonhos e nos sonhos dos meus.
Sou meu próprio Deus,
pelo suicídio da criação.
Vôo largo,
pela sua mão,
e desço ao largo
do inferno da paz e redenção.

"At tragic heights" & "Scorpion flower" , Night Eternal , Moonspell

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Fadiga

Aqui.
Onde os fracos perecem,
os homens desfalecem,
e os heróis de outrora
tropeçam.
A anos luz da aurora,
no lugar comum
do aqui e agora,
onde as pernas tremem,
no sentir que os homens temem.
Onde tudo foge,
tudo corre,
tudo,tudo,tudo morre.
Onde os olhares se perdem,
as vozes emudecem
e as vidas desvanecem.
Quando o sofrer
entra a doer,
implora para morrer,
cego,sem poder!
Para lá das cores
e das dores,
dos medos e pavores,
dos ácidos sabores
de sangue e suor,
a dúvida maior:
será fado,
estar sempre cansado?

"No more tears", Live&Loud, Ozzy Osbourne

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Insónia

Não há sonhos.
Nada para me assaltar,
sono por que esperar.

Já é tarde!

Silêncio

terça-feira, 1 de julho de 2008

Escrita sem dia

Guardei a tua carta.
A tinta farta,
a letra decidida,
acometida
por (entre)linhas
tortas, como as minhas.
A semântica tímida,
escondida
entre os meus olhos
e o teu coração,
entre os sonhos
e a razão.
A saudade
de quem parte
á vontade,
por essa folha sem arte,
para escrever o que pensou,
o que um dia se dirá que mudou.
A saudade sem medo,
convicção,cego credo,
que o logo
chega cedo
e não fica cá.
Se me escreves de lá,
de onde me esperas,
se não exasperas
pelo viver que te criou,
é porque és as quimeras
do ser quem sou.

"Cartas de amor", Quarteto moderno