Nem o cedo é tarde, nunca foi.
Foste sempre a minha urgência,
que sempre quis demorar,
sem nunca abrandar.
Nem o tarde é cedo, nunca será.
O tempo é minha insolência,
sempre vã, negra, cega e sem perdão
que nunca pára quando deve parar.
"Suor e Fantasia" , Quinteto Tati
Physics of Gridlock - Pain of Salvation
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Astrolábio Cabrestante
Devia ter-me dado ao mar, naquela noite. Talvez tivesse percebido mais cedo para que lado me levavam as estrelas e me soprava o vento. Para que fado me talhava o canto. Para que medo me falhava o pranto.
Devia ter seguido as ondas, a fúria ao desbarato. Devia ter sentido em meu corpo nu a bravata de ser guerreiro e navegador, o frio da água, a vontade de nadar contra a corrente, nunca mais ver terra minha.
Devia ter feito o que senti, cantar sem medo meu sentimento vão. Devia ter ignorado o frágil temor do que ficou para trás, devia ter bradado pátria ingrata, se por mim me sagrei e fui herói.
Devia ter-te pedido o mundo, quando tão pouco dele tinha visto. Levar-me até ao profundo dos mares, ser meu próprio guia, guiar-te por minha mão temperada no ferro da idade.
"Pode alguém ser quem não é" , Irmão do Meio , Sérgio Godinho
Devia ter seguido as ondas, a fúria ao desbarato. Devia ter sentido em meu corpo nu a bravata de ser guerreiro e navegador, o frio da água, a vontade de nadar contra a corrente, nunca mais ver terra minha.
Devia ter feito o que senti, cantar sem medo meu sentimento vão. Devia ter ignorado o frágil temor do que ficou para trás, devia ter bradado pátria ingrata, se por mim me sagrei e fui herói.
Devia ter-te pedido o mundo, quando tão pouco dele tinha visto. Levar-me até ao profundo dos mares, ser meu próprio guia, guiar-te por minha mão temperada no ferro da idade.
"Pode alguém ser quem não é" , Irmão do Meio , Sérgio Godinho
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Brumas,
Dor no fado,
Eternidade,
Lugares incomuns
domingo, 11 de setembro de 2011
Fugata Bravatta
Escutei a glória divina
do teu respirar descompassado,
como um grito fechado
há eras sem conta
num peito saudoso
de arquejar,
de se esquecer,
de respirar.
Mais um passo,
difícil, forte, de morte
de teatro,
e tudo estaria acabado.
O meu corpo deixaria o teu,
o teu resistir-me-ia,
o vazio chegaria ao céu,
o violino choraria.
Mas não aconteceu,
ainda não.
Ainda tenho a tua mão,
ainda te posso levar,
os teus olhos conspiram fugas
por consumar,
e eu respirei-te a pele
em tantos passos mudos,
que os não consigo contar.
E em todos eles,
te sonhei tomar.
É contratempo,
é o fim,
é o acorde final do desconcerto.
Terminamos de respirar ofegante
entregue um ao outro,
com os teus lábios
a clamar desejo,
e eu morto por roubar um beijo,
que me pertence mais que a ninguém.
Mas estamos sós, e acabou a música. Mas não o tango.
"Primavera Porteña" , Piazzolla Seasons, Gidon Kremer & Kremerata Baltica (original Astor Piazzolla)
do teu respirar descompassado,
como um grito fechado
há eras sem conta
num peito saudoso
de arquejar,
de se esquecer,
de respirar.
Mais um passo,
difícil, forte, de morte
de teatro,
e tudo estaria acabado.
O meu corpo deixaria o teu,
o teu resistir-me-ia,
o vazio chegaria ao céu,
o violino choraria.
Mas não aconteceu,
ainda não.
Ainda tenho a tua mão,
ainda te posso levar,
os teus olhos conspiram fugas
por consumar,
e eu respirei-te a pele
em tantos passos mudos,
que os não consigo contar.
E em todos eles,
te sonhei tomar.
É contratempo,
é o fim,
é o acorde final do desconcerto.
Terminamos de respirar ofegante
entregue um ao outro,
com os teus lábios
a clamar desejo,
e eu morto por roubar um beijo,
que me pertence mais que a ninguém.
Mas estamos sós, e acabou a música. Mas não o tango.
"Primavera Porteña" , Piazzolla Seasons, Gidon Kremer & Kremerata Baltica (original Astor Piazzolla)
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Graves
Entre muros de razões,
entre madeixas de cabelo desgrenhado,
entre dúvidas e questões,
entre pele e fogo,
entre falsas interrogações,
entre olhos vidrados,
entre medos e absolvições,
entre bocas coladas,
entre furiosas redenções,
entre suores e febres,
entre breves hesitações,
entre a selvática entrega,
entre a morte e as monções.
Entre nós.
"The Great Gig in the Sky" , Dark Side of the Moon , Pink Floyd
entre madeixas de cabelo desgrenhado,
entre dúvidas e questões,
entre pele e fogo,
entre falsas interrogações,
entre olhos vidrados,
entre medos e absolvições,
entre bocas coladas,
entre furiosas redenções,
entre suores e febres,
entre breves hesitações,
entre a selvática entrega,
entre a morte e as monções.
Entre nós.
"The Great Gig in the Sky" , Dark Side of the Moon , Pink Floyd
terça-feira, 21 de junho de 2011
Valeriana
Se não te sonho,
livre na minha pele,
não quero dormir.
Se o teu sabor
não me mata a sede,
continuo a resistir.
Se o teu nome
não ecoa pela noite,
continuo a ouvir.
Se não te vejo
onde és só minha,
não quero ir.
"Tu e somente tu" , Quarteto Moderno
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Primertango
Nunca dancei.
Nunca dei corpo
ao ser por ser,
ao sonhar por fazer.
Não fiz meu mundo
girar em si mesmo,
por fundo ou profundo
prazer que seja.
Agora entendo
nunca ter dançado.
Não te tive minha,
mão na mão,
em ti meu céu,
em mim teu chão.
Meu primeiro tango não é meu.
"Vuelvo al Sur", La Sirena, Teresa Salgueiro (original Astor Piazzolla)
terça-feira, 7 de junho de 2011
Conteúdo
Deixa-me falar-te de mim.
Não me ouças,
não me ouças,
deixa-me falar,
falar sem fim.
Esquece que a minha palavra sou eu.
Não te esqueças,
não te esqueças,
tira o sentido ao verbo,
verbalizar-me teu.
Sente o frio no meu peito.
Se te queima,
se te queima,
corre daqui,
Corre a direito.
Vê-me no outro lado do teu mundo.
Fecha os olhos,
fecha os olhos,
espero-te aqui,
aqui no fundo.
"Faust Arp" , In Rainbows , Radiohead
sábado, 28 de maio de 2011
Vivir
É morrer de novo,
e de novo erguer.
Ao vazio anuir,
ao mundo acolher,
em mudas cores
mudadas,
feridas, dores
curadas
e ser.
Sê-lo sempre,
sempre.
Ser.
É viver de novo,
de novo arder.
Ao fogo dar
fogo ao fogo,
par em par,
arder sem parar,
respirar,
fogo lento,
morte e ar.
Ser do vento,
voltar a navegar.
"Hex Omega" , Watershed, Opeth
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Diástole
Minha voz sem terra
sangrei.
Meu corpo cego
guiei,
até meu chão,
e parei.
Cego me vi
e sonhei,
olhos a Deus,
fechei.
Abri coração,
e parei.
"Cantigas do Maio", Carlos do Carmo&Bernardo Sassetti
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Da trincheira
Não te sei amar na guerra.
Não sei morrer nem sei ceder,
palmo a palmo, a minha terra.
Não sei ouvir de que falas.
Não sei cessar o fogo ou dar
alma e corpo e fogo ás balas.
Não sei enterrar o machado,
não sei hastear bandeira, não dar
o teu castelo por tomado.
Não sei travá-la, a guerra.
Não sei parar a dor ou o ardor.
Não sei sequer se é terra
ou uma noite de rancor
que me espera.
O que eu sei, amor,
é que te não sei amar na guerra.
"After", After, Ihsahn
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Estrangeiro
Tocaste-lhe o coração,
pomba sem asas.
Anteu sem quinhão,
sem terra por mãe,
ou pó por pai.
Teu ardor é luz,
é fogo sem vintém,
é chama por trazer
à morte que nos vive,
à vida que nos morre.
Teu sopro é brisa,
a tempestade dos céus,
que te anuncia e profetiza,
é a tua palavra final,
muito antes do fim.
Teu sangue e tuas mãos
são teu nome e teu segredo,
teus erros vãos,
tua essência dada,
tua presença nunca tomada.
"Native Sense" , Native Sense , Chick Corea
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