Devia ter-me dado ao mar, naquela noite. Talvez tivesse percebido mais cedo para que lado me levavam as estrelas e me soprava o vento. Para que fado me talhava o canto. Para que medo me falhava o pranto.
Devia ter seguido as ondas, a fúria ao desbarato. Devia ter sentido em meu corpo nu a bravata de ser guerreiro e navegador, o frio da água, a vontade de nadar contra a corrente, nunca mais ver terra minha.
Devia ter feito o que senti, cantar sem medo meu sentimento vão. Devia ter ignorado o frágil temor do que ficou para trás, devia ter bradado pátria ingrata, se por mim me sagrei e fui herói.
Devia ter-te pedido o mundo, quando tão pouco dele tinha visto. Levar-me até ao profundo dos mares, ser meu próprio guia, guiar-te por minha mão temperada no ferro da idade.
"Pode alguém ser quem não é" , Irmão do Meio , Sérgio Godinho
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