Physics of Gridlock - Pain of Salvation

terça-feira, 1 de julho de 2008

Escrita sem dia

Guardei a tua carta.
A tinta farta,
a letra decidida,
acometida
por (entre)linhas
tortas, como as minhas.
A semântica tímida,
escondida
entre os meus olhos
e o teu coração,
entre os sonhos
e a razão.
A saudade
de quem parte
á vontade,
por essa folha sem arte,
para escrever o que pensou,
o que um dia se dirá que mudou.
A saudade sem medo,
convicção,cego credo,
que o logo
chega cedo
e não fica cá.
Se me escreves de lá,
de onde me esperas,
se não exasperas
pelo viver que te criou,
é porque és as quimeras
do ser quem sou.

"Cartas de amor", Quarteto moderno

2 comentários:

Susana disse...

"é porque és as quimeras
do ser quem sou."

Belo remate final, não só pelo ritmo e rima final, como pelo significado da metáfora em si.
Tricky, though... Um pesadelo para um aluno do secundário num teste de português :P

Anónimo disse...

Um belo texto. Cartas de amor, kem as não tem... =p