Amaldiçoa a Milonga.
Passo curto,
volta longa,
olhar fortuito,
ponta a ponta.
Vira o barco,
segue a onda.
Acelera o passo,
alonga a ronda,
olha em frente,
gira de repente,
corpo colado,
respirar demente!
Pensar dormente,
corpo quente,
pásion ardente!
Mão gelada,
coração mudo,
gente calada,
cega para tudo.
Roçar de lábios,
loucos sábios,
amantes descuidados.
Olhares proíbidos,
sonhos desmedidos,
suspiros reprimidos!
No calor do respirar,
pausa no soar
do tempo a passar,
ninguém vê
para julgar.
E eis que se revolta!
Acorda a coragem
que parecia morta,
toma-a,selvagem,
nos braços da raiva solta,
beija-a num cruzar de pernas,
carícias ternas
e eternas,
na imensidão do segundo.
Retorna á balada,
de abalada,
para a realidade abandonada,
na certeza da loucura.
Perdidos na pura
paixão de um violino,
rendidos ao fino
rendilhar do piano,
a Milonga é só mais um porto seguro,
para os amantes
separados por um muro.
"Verano porteño" , The Central Park Concert , Astor Piazzolla
3 comentários:
fizeste-me lembrar algo que escrevi há alguns anos:
numa rua de buenos aires sonhei que te vi
pele morena olhos de amendoa
numa rua de buenos aires supliquei por ti
paso suave abrazo forte
numa rua buenos aires enamorei-me de ti
sorriso de rouxinol perfume de jasmim...
Soa a poema teu, mas soa diferente de outros poemas teus... Me like it!
Complexo, mas tem a sua piada.
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